Duas experiências de parto domiciliar na França
2011
Blogagem Coletiva : Para quem ainda não nos conhece somos um grupo de 24 “mães internacionais” de 14 países que divulgam a maternidade e as culturas dos seus devidos paises. Cada mês falamos de um assunto preestabelecido, hoje postamos todas sobre parto.
Sobre as parteiras domiciliares na França
Parteiras domiciliares na França são mulheres altamente determinadas, Corajosas e Humanas , apesar de escolherem a profissao mais velha do planeta e uma das mais complicadas exercidas nos dias de hoje, perpetuam e transmitem esta sabedoria com muito amor e devoção. Antigamente acompanhar uma mulher gestante era um trabalho exclusivo de mulheres e muitas vezes era chamado de “roda de mulheres”.
A parteira pode prescrir clinicamente, ecografias, certos remédios, exames… e você pode optar pelo atendimento exclusivo da parteira durante a gestação, para o parto e pós parto, sem precisar recorrer a ginecologistas ou outros. Ainda é raro isso acontecer, geralmente as mulheres optam pour multiplos atendimentos medicais.
Muito constrangedor a parteira francesa não pode ter seguro de trabalho, o que ela ganha por ano é praticamente o que o seguro pede para cobrir os famosos “riscos e perigos” da parto a domicilio. Isto tb explica porque poucas parteiras exercem como domiciliares, a maioria trabalham em hospitais. Onde se sentem “protegidas” pelo sistema.
O risco que elas se autorizam é o mesmo que as maternidades permitem, o mínimo e para dizer a verdade acho que elas não se permitem ter riscos, justamente pela falta compreensão e medo de processos.
Não há parto domiciliar praticado fora de um certo perimetro, sempre a maternidade deve estar ao alcance em caso de urgências. A maternidade mais próxima da sua casa possui um dossier no caso de que a necessidade vier à tona.
A parteira chega na tua casa com malas e malas de equipamentos medicais e com material para primeiro socorro. Por exemplo quando vai ter bb em casa você é obrigada a alugar um tubo de oxigênio. Assim como para o parto hospitalar, os gastos são todos pagos pela seguridade social.
Parto da pequena nos Alpes
Antes de contar sobre o meu primeiro parto tenho que dizer que não seria possível ter tido estas experiências se eu não tivesse lido os livros dos famosos obstetras ( os raros que escutam suas partes femininas) Michel Odent “A cientificação do Amor” e Frederick Leboyer “Nascer sorrindo”.
Li muitos outros que tb me ajudaram a entender o ato, mas estes dois caíram como uma luva e revelaram a força que eu tinha dentro de mim e me ajudaram a entender que a mulher tem capacidade de parir e sozinha. Como eu gosto de desafiar minhas capacidades, entrei de cara sem nunca duvidar. Pois eu sabia que se duvidaria eu desistiria.
Minha parteira morava a 1h de carro da minha casa , eu e P fomos visitá-la 3 vezes. Aprendi entao, que tinha um períneo e muitos músculos diferentes em volta à serem trabalhados. Aprendi que minha respiração era minha melhor aliada para parir sem medos. Dia X chegou e de manhã senti as primeiras contrações, senti que daquele dia não passaria.
E coisa incrível, minha mãe chegava na mesma tarde do Brasil, as 17 horas catei minha mãe e P para ir andar na floresta. Nesta hora minhas contrações começaram a ficar de hora em hora. Voltei, liguei para a parteira e disse “vem é para hoje”. Comi um baita prato de arrozfeijaofarofa, sob os olhos arregalados de minha mãe. Depois andei muito, me fazia bem, queria mesmo estar fora no ar livre, eu queria ficar nua, ai já viu, fiquei andando no apê mesmo. Coloquei velas e apaguei as luzes, uma verdadeira penumbra. Tomei um banho na banheira, tentei ficar na água mas não gostei.
La pelas tantas o trabalho de verdade começou e a partir daí não saí mais do quarto. Com meus joelhos no chão abraçada na cintura do P, fiquei durante tempo (não tenho a mínima noção do tempo exato). A parteira ficava colocando toalhinhas molhadas em agua quente ao redor dos meus orgãos genitais, um alivio e é super agradavel, recomendo. Depois ela forrou todo o quarto, preparou uma coisa ou outra, acolheu uma outra parteira principiante que se propôs a assistir o parto, que virou amiga.
Minha mãe e P estavam ali me dando apoio e super discretos, só me olhavam, amei esta discrição e apoio “presente” ao mesmo tempo. A bolsa d’água estourou, literalmente, alguns minutos antes do bb chegar e todo mundo que estava em volta tomou um banho, rimos. Só sei que ainda estava agarrada na cintura do P quando bb chegou e que dei uns bons gritos de entrega nas suas orelhas. (ele confessou depois que foi i m p r e s s i o n a n t e ). Lá pela pelas 2h da manhã meio fora do ar acolhi bb em meus braços, ainda trémula fui me deitar com ela e enquanto isto a parteira secou o quarto, tempo depois veio pedir para eu liberar a placenta e fazer dois pontos, ai uma episio, ufa! nem me lembro.
Claro esta noite não dormi e nem queria. Só queria ficar olhando a mais bela criatura mamando muito colostro. Já era gulosa!. Não sei o que significou dor na hora do parto, para mim esta sensação de abertura e acolho que sentia era mais uma forma de força supra-humana que outra coisa. ( Ja ouvi falar em depoimentos de parto orgásmico, mas isso pode chocar algumas se eu entrar neste assunto;).)
Parto do pequeno em Paris
Encontrei uma parteira muito experiente e muito ligada com o trabalho das parteiras indígenas do Canada. Esta mulher é uma sabedoria e humildade ambulante. Visitei 2 ou 3 vezes com P preparar o parto e sobretudo para nos conhecermos. Estava bem mais sobrecarregada neste final de gestação, com criança no colo e muito resfriada, era fatigante.
Num sábado tive falsas contrações e fiquei alerta. No domingo de tarde comecei a ter contrações outra vez e super contente de ter o maridão para ajudar a cuidar da pequena de 22 meses. Claro fui para a floresta, desta vez fui meio cedo, todo mundo me falava que o segundo viria mais rápido. La pelas 20h pedi para aparteira vir. Colocamos uma lâmpada especialmente concebida para irradiar uma luz leve e suave, uma paz! Começamos por tentar colocar a pequena p dormir e nada, a esperta estava muuito curiosa. Decidi ficar na sala já que os quartos eram em cima e tentar deixar a pequena dormir, mas difícil.
As 23h o trabalho de verdade começou e tive que pedir para P ficar comigo e deixar a pequena dormir sozinha, choramingou um pouco e dormiu logo. Fiquei de joelhos agarrada na cintura do P outra vez, ele estava sentado no sofá. Gente e ali começou a melhor coisa que eu poderia esperar de um trabalho de parto MASSAGEM, meu maridão me massageou durante uma hora em movimentos circulares em cima do meu sacro.
Aaaahhh so de lembra… E por incrível que pareça meu resfriado simplesmente desapareceu. Não precisei dar meus berros de liberação e nem queria desta vez, tentei entender o que estava sentindo e senti outras coisas que no primeiro parto. Não precisei ficar fazendo força, descobri que era inútil e que isto rasgaria minha vagina. A bolsa tb estourou logo antes do bb chegar e desta vez foi mais discreto e ninguém se molhou. Deixei bb fazer seu caminho e chegou la pela meia noite. ufa! terminei, quanta coisa p ler, se chegou até o fim obrigada pelo interesse:))!!!
“Meus partos foram maravilhosos. Não acredito em sorte, acredito em encontros.” Abraços!
Veja experiência de outras mães no Mães Internacionais .
Comentários resgatados
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[…] França, Carine: Carrego no Pano […]
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Carine,
Estou emocionadissima com os seus relatos. LIndo, lindo, lido! Precisamos trocar figurinhas… Eu penso muito (mas muito mesmo)no parto domiciliar, mas confesso, eu ainda tenho que lidar melhor com aquele medinho-medonho que eu ainda sinto.
Beijos : )
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Carine,
Seus relatos são muito bonitos! Parabéns!
A idéia de parto domiciliar me atrai muito, mas nesta família essa jornada é feita em conjunto e o pai tem sérias restrições a isso, e são ainda maiores depois que o primeiro filho nasceu anoxio e precisou ser ressusitado.
Beijos
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Carinw, lindas experiencias, hein! Achei engraçado vc falar q ia na Floresta, como assim? Onde moras???
Tb fiquei nua, sentia MUITO calor, precisava de liberdade.
Ja li sobre o parto orgasmico, mt interessante mesmo.
E vai vir um 3°??
bjinho!
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Dani, pois é, ou eu persigo floresta ou ela que me persegue! desde que moramos na França tivemos uma por perto e no Brasil idem. O number 3, bem que eu quero… vou esperar mais 2 ou 3 anos e quem sabe o maridao se anima até la. beijao
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Neda, neste caso concordo com teu marido. Minha vontade neste caso seria de proteger, procuraria estar com mais profissionais a minha volta. Mas isso eu falo agora, na verdade tudo é relativo e viver o momento presente é dificil de julgar. Espero de coraçao que encontre pessoas capazes de te escutar e de entender tuas vontades de parturiante, é o principal o que vc sente e o que vc deseja…sempre. beijao até+
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Ana, ja senti varias vezes vontade de te ligar, mas agora eu vou. manda ai teu numero no email e te ligo em breve. beijao vizinha:)!
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Uau!! Que relatos mais fantasticos!! Adorei!
Tambem faço parte da blogagem coletiva, apesar de não estar tão ativa, estou adorando conhecer a realidade da hora P. em tantos países, e as (como sempre) diferentes opiniões de cada uma.To te linkando lá no blog.
beijao
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Flavia, estava mesmo lendo teu blog neste instante:)) Estas BC estao super ricas e cheias de emoçao! obrigada pela vista!
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Amei!!! Lindo o relato dos teus “momentos mágicos”!!! Com certeza temos mais essa afinidade, e p/ ser sincera antes mesmo do relato eu tinha essa impressão de que vc teria feito partos domiciliares!!! Essas coisas que agente não sabe explicar! Beijos no Coração!
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Vixe, vc é corajosa demais!! Eu quero ser assim também!! Meu Deus, será que eu consigo no meu segundo? Lindas e inspiradoras experiências. PARABENS!!
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adorei ler as experiencias! apesar de ainda morrer de medo da hora do parto hehe achei seu blog pelo site das maes internacionais e adorei, pq sempre quis aprender a usar o pano para carregar as criancas. mas aqui em Munique ja escutei coisas como: eu nao uso pano…nao estamos na Africa! =/ terrivel ne? bjs!
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Nossa, que experiencia, Carine! Adorei ler seu relato. Parabens pelo post. Bjs
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Mi, vc sabe que quase tudo que aprendemos sobre carregar bebês fisiologicamente foi por causa da Alemanha. Este pais é um precursor na Europa, tem até faculdade sobre “carregar bebê”! Eles carregam muito os bebês e tem uma visao muito boa da maternidade em geral e sobre a criança tb. Em todo caso melhor que aqui.
Tem muitas conselheiras de carregar bb por tua volta, espero que vc encontre uma. se nao achar me procure, tenho contatos na Alemanha. beijao
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Oi Carine,
acho que depende da regiao! antes por exemplo, morava em Leipzig, mais perto de Berlin, onde tem muitos estudantes e o pessoal é alternativo. Lá só se usa o sling! =) acho o máximo. Aqui em Munique, o pessoal é “metidinho” demais pra isso…acha que sling é meio atrasado. Uma pena. Mas apesar disso sei que tem varios cursos por aqui que te ensinam a usar o sling de um jeito seguro. Eu com certeza vou fazer, pq já vi que tem 1001 jeitos de trançar. =)
Sobre a visao da maternidade, tb acho que aqui é bem mais natural…alias, as vezes ate natural demais haha eu acho otimo comparar as tradicoes brasileiras com as daqui. bjs!
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Hallo Michele, nossa que interessante esta diferença entre o norte e o sul!!? Puxa é uma pena achar que o sling é antigo, entao poderiamos dizer que o meï-taï é super antiquado, ja que é usado a centenas de anos na Asia! é o meu porta-bebê preferido para carregar bebê nas costas! Pena os “pré-conceitos”, mas o mundo da maternidade é cheio de preconceitos :(!!! Tenho certeza que achara um pessoa open mind p te mostrar os tipos de porta-bebês existentes e suas amarraçoes. Se precisar estamos ai e sera um prazer trocar idéias. beijao
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Carine, amiga, que lindo ler este post, obrigada! Para teus leitores quero dizer duas coisas, primeiro, eu morreria de medo de ter meu filho no hospital, não arriscaria, para a maioria das mulheres um parto em casa é muito mais seguro que parir no hospital (sim, tem estudos científicos que provam isso). E segundo quero deixar o link da nossa equipe aqui em Floripa que tem um monte de informações e relatos de partos domiciliares,http://www.partodomiciliar.com.
Muitos beijos, Tamara (enfermeira-obstetra alemã que mora no Brasil faz 5 anos e adora!)
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Sweet Tamara obrigada pelo comentario!!! Eu me deliciei com as belas fotos de partos do site, é lindo este trabalho. Quando vi a foto da guria la fora no quintal, me deu vontade de ter um terceiro em Floripa! Em plena natureza!!!
Concordo que ter bebê em casa é muito mais seguro, a gente esta em Paz em casa:). No meio hospitar é dificil, sempre ha stress rolando pelos 4 cantos e muitas regras para respeitar. Eu, pessoalmente, moooooorro de medo de hospitais!!! Mas acho que o que mais ajuda a ter partos maravilhosos em casa sao estas fadas que estao ao nosso redor nos acompanhando, nos guiando, nos ensinando a beleza de ter filhos naturalmente. E estas fadas, infelizmente, são raras em hospitais. Beijos no coraçao e abraços na familia:)))
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oi Carine!!
Uai! Vi agora o comentario de ligar aqui em casa! Vou te deixar o num. e mail la no FB!! Beijos : )
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Não sei se teria coragem de fazer isso, mas admiro as mulheres que tem. Acho parto em casa um pouco arriscado e, sinceramente, me sentiria muito mais segura com uma equipe preparada. Mas, confesso que o medo é que no hospital possa acontecer algo com o bebê, como um sequestro. E em casa isso não acontece. Mas, seja em casa ou no hospital, acho super especial usar o método canguru. Independente se o bebê é prematuro ou não.
Para as mamães vale a pena conhecer melhor este método de cuidado com o rescém chegado.
Vou compartilhar uma dica para ajudar:
Razões sem razões p carregar o tal ser Lançamento do mapa “Carregar bebê no Brasil”